Tecnologia

Tecnologia a serviço da Busca e Salvamento

Das muitas histórias de salvamento, ainda estão bem vivas na memória dos militares as missões de busca após o acidente com as aeronaves da Gol, em 2006, e da Air France, em 2009.

Também é recente e marcante para o Serviço SAR (busca e salvamento) o resgate do velejador holandês Ebrahim Hemmatnia, na costa do Rio Grande do Norte, no dia 30 de janeiro de 2015. A sua embarcação foi atacada por tubarões e, com danos no leme, ficou sem controle.

“Fui resgatado em menos de 24 horas depois que o sinal de emergência de minha embarcação foi emitido. Os pilotos da FAB pensaram muito rápido e colocaram uma outra embarcação próximo a mim até que o navio da Marinha fosse enviado para me resgatar. Se o Brasil não tivesse esse sistema, eu não teria sobrevivido”, conta Ebrahim.

O acidente não terminou em tragédia graças a um sistema de busca e salvamento por rastreamento de satélites presente em várias partes do mundo conhecido como COSPAS-SARSAT – do inglês Search And Rescue Satellite.

“Este sistema permite que tenhamos os dados de localização e de alertas de emergência com maior precisão, economia de tempo, além de aumentar as chances de sobrevivência das vítimas”, explica o operador do sistema, Sargento Ribeiro.

No caso do Brasil, quando uma baliza é acionada, o sinal é captado pelo satélite que o retransmite para as estações receptoras em terra (LUT), que automaticamente o processam e enviam sua localização ao Centro Brasileiro de Controle de Missão (BRMCC), unidade do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA),  localizada em Brasília.

“O alerta chega ao BRMCC em média de dois a oito minutos após o acionamento da baliza. A partir desse sinal é possível saber a localização e acionar o socorro”, relata o supervisor do sistema, Sargento Flávio Custódio de Brito.

Cabe ao BRMCC verificar o sinal de alerta e transmiti-los aos Centros de Coordenação de Salvamento Aeronáutico (Salvaero) e/ou Marítimo (Salvamar), que assumem a missão de prestar o Serviço de Busca e Salvamento. Se a área detectada estiver fora dos limites de responsabilidade do Brasil, o BRMCC retransmite a informação para o país emérito.

A partir daí, podem ser acionados aeronaves, embarcações e grupos no solo para a missão de busca e salvamento. Os Elos de Execução são formados por 11 Unidades Aéreas (UAe) do Comando-Geral de Operações Aéreas (COMGAR).

A Força Aérea Brasileira (FAB) possui unidades de prontidão em Belém (PA), Manaus (AM), Natal (RN), Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ), Florianópolis (SC), Santa Maria (RS) e Campo Grande (MS).

O COSPAS-SARSAT foi estabelecido após um acordo internacional com o objetivo de salvar vidas através da localização de radiobalizas de emergência. O sistema é mantido por quatro países fundadores – Estados Unidos, Canadá, França e Rússia – e está em operação desde 1982. Até o momento, cerca de 39 mil vidas foram salvas graças ao programa COSPAS-SARSAT.

O advento do sistema, implementado no Brasil em 1985, permitiu a detecção das três balizas de emergência:

  • ELT (Emergency Locator Transmitters)para uso em aeronaves;
  • EPIRB (Emergency Position-Indicating Radio-Beacon) para emprego em embarcações – exatamente o que foi utilizado pelo holandês Ebrahim;
  • PLB (Personal Locator Beacons), para uso individual.

Falsos alertas

O Brasil ocupa destaque no cenário internacional do programa, embora enfrente o obstáculo cultural dos falsos alertas. Em 2014, o sistema COSPAS-SARSAT recebeu 1.833 sinais de alerta. Desses, 99,51% eram falsos.

De acordo com o chefe do BRMCC, Tenente Roberto de Lima e Souza, os sinais falsos são muito comuns devido aos testes nos equipamentos e acionamentos não intencionais. “ Por causa desta elevada taxa de falso alerta, os Salvaeros são obrigados a investigar cada sinal de emergência, antes de deslocar as equipes de busca e salvamento. Os procedimentos incluem a comunicação com os proprietários de aeronaves, embarcações, aeroportos, clubes de aviação e outros meios”, revela o oficial.

Um dos problemas é o registro das balizas, que pode ser facultativo. A falta de registro não impede seu funcionamento, mas dificulta os procedimentos. “Quando a baliza é registrada, os dados necessários estarão especificados no formulário, permitindo identificar se o sinal emitido é verdadeiro, a partir do contato com o proprietário. Isso evita a perda de tempo prejudicial ao salvamento”, afirma o Tenente Lima e Souza.

O BRMCC promove campanhas de conscientização para o registro. É um serviço gratuito e pode ser feito através do endereço www.brmcc.aer.mil.br.

Investimento em tecnologia

Com toda tecnologia de ponta adquirida pelo DECEA, num país absolutamente controlado pelos radares, os coordenadores SAR são abastecidos por uma rede de comunicações que permite planejar as operações de forma digital e integrada com as Unidades Aéreas.

A instalação da estação MEOLUT  – Terminal de Usuário Local de Órbita Média – em julho de 2009 – propiciou ao Brasil assumir a posição de quarta no mundo, atrás do Canadá, Inglaterra e França, a implantar a tecnologia de ponta do Sistema COSPAS-SARSAT, sendo a única estação instalada no Hemisfério Sul.

O DECEA utiliza dois tipos de satélites: o LEOSAR e o GEOSAR – que captam e retransmitem o alerta. Ambos trabalham de forma complementar. Enquanto o primeiro localiza o sinal de emergência, o segundo tem maior agilidade na recepção do alerta.

Em fase de implantação está uma nova antena que vai unir as duas tecnologias: o sistema MEOSAR – que  emprega satélites com órbitas médias e capacidade de procurar por sinais de emergência em um raio muito maior, isso em comparação com os satélites de órbita polar baixa (LEOSAR).

Como resultado, teremos um salto de qualidade na precisão e na diminuição do tempo da localização da posição, contribuindo diretamente para a economia e eficiência do emprego dos meios SAR em atendimento às emergências.

A homologação do MEOSAR conta com a participação de equipes brasileiras. Em 2014, uma aeronave SC-105 Amazonas e um helicóptero H-60 Black Hawk foram empregados para testar o sinal de balizas em áreas brasileiras utilizando o novo satélite.

Segundo o chefe da Subdivisão de Busca e Salvamento do Primeiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA I), Major Aviador Antonio Carlos Neves Trigueiro, o acionamento da baliza ELT em voo teve um reconhecimento internacional muito significativo: “A intenção é que depois de homologado sejam colocados em órbita 72 satélites MEO, com uma cobertura de 100% do globo terrestre”.

O grande desafio para 2016 é aumentar o número de vidas salvas. “Quanto mais rápido receber o sinal, localizar o objeto de busca, maior será a nossa chance de salvar vidas. Com a implementação do sistema MEOSAR, a tendência que o tempo de resposta seja muito menor”, afirma o Major Trigueiro.

Como vimos, o Brasil se destaca na América do Sul e figura entre os países que melhor se preparam para atender às vítimas de acidentes aeronáuticos e marítimos.

Todos esses esforços combinados resultam em uma estrutura capaz de fazer frente aos desafios que se apresentam diariamente ao Serviço SAR Aeronáutico.

Fonte: Decea (15/10/2015)

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