Programa de aviação da NASA prevê desenvolvimento de aeronaves
Conceito de avião supersônico da NASA (Foto: NASA)
A NASA quer mudar a forma como você voa – mesmo que uma visita à Lua não esteja em seus planos. Embora a agência norte-americana seja essencialmente lembrada por suas missões espaciais, o fato é que há décadas ela também se dedica ao desenvolvimento da aviação. E agora dá início a um novo programa voltado a aeronaves e tecnologias experimentais, que prometem revolucionar o setor aéreo nos próximos anos. Trata-se do “New Aviation Horizons”, uma iniciativa de dez anos de duração, que já conta com um orçamento de US$ 790 milhões para 2017. A meta é tornar os aviões mais rápidos e mais silenciosos e, ao mesmo tempo, minimizar seu impacto ambiental.
No futuro idealizado pela NASA, as aeronaves consumirão metade dos combustíveis fósseis utilizados hoje pelo setor, as emissões serão reduzidas a ¼ do nível atual, e será possível voar usando energia limpa. Em relação aos aeroportos, almeja-se que não perturbem tanto o sossego da vizinhança, tornando-se aptos a controlar melhor o barulho gerado pelo ir e vir das aeronaves. O sistema precisará se adequar para absorver com segurança a demanda crescente – serão quase quatro bilhões de passageiros a mais nos próximos vinte anos. Ainda segundo as projeções da agência, viajar para qualquer uma das principais cidades do mundo vai durar, no máximo, seis horas, graças à retomada dos aviões supersônicos. É um plano ambicioso e otimista que requer união de forças, incluindo parceiros que nem mesmo atuam tradicionalmente na indústria da aviação.
Em junho, a NASA apresentou uma das principais apostas do programa: o X-57 “Maxwell”. O apelido homenageia James Clerk Maxwell, físico escocês do século 19 que desenvolveu pesquisas importantes no campo do eletromagnetismo.
O diferencial do novo modelo é ser movido a eletricidade, o que elimina a emissão de CO2. O avião conta com 14 motores, doze deles acionados para decolagem e pouso, e dois maiores, localizados nas pontas das asas, que trabalham sozinhos quando o avião atinge altitude de cruzeiro. Segundo a NASA, Maxwell deve usar 1/5 da energia que é necessária, hoje, para fazer um avião pequeno voar a uma velocidade de aproximadamente 280 km/h.
A indústria já está de olho nesse conceito – entre as iniciativas bem-sucedidas está, por exemplo, o E-Fan, protótipo da Airbus. E até Elon Musk, CEO da Tesla Motors, já manifestou seu interesse em desenvolver um jato movido a eletricidade. Mas a proposta ainda é limitada por dois aspectos principais: o peso e a capacidade de armazenamento de energia das baterias. Os testes com Maxwell devem ser realizados ao longo dos próximos quatro anos.
Outra grande aposta da agência envolve aviões supersônicos. Vale lembrar que a NASA criou a primeira aeronave a vencer a barreira do som (o X-1, em 1947). A tecnologia chegou a ser adotada no transporte de passageiros, com os Concordes, mas sempre enfrentou um problema: o boom sônico, um estrondo semelhante a uma explosão que ocorre quando a aeronave ultrapassa a velocidade do som. Por causa do transtorno que isso gerava em áreas povoadas, os aviões só podiam atingir sua velocidade máxima sobre o mar, o que os tornava menos eficientes. “Esse limite de velocidade, na verdade, fez o avião muito menos eficiente. Ele foi projetado para voar rápido”, diz Carl Wisniewski, diretor de programas avançados da GE Aviation.
En 1947, o Bell X-1B, pilotado por Chuck Yeager, tornou-se o primeiro avião a superar a velocidade do som (Foto: NASA)
Os Concordes foram aposentados em 2003, mas a NASA não abriu mão da ideia de voos supersônicos para transporte de passageiros. Para viabilizar a proposta, a agência deu início ao projeto QueSST (Tecnologia Supersônica Silenciosa, na sigla em inglês). As imagens divulgadas pela agência no fim de fevereiro mostram um avião com nariz ainda mais pontudo que o do Concorde, que será capaz de romper a barreira do som silenciosamente, ou, pelo menos, com um baque muito mais suave que o estrondo gerado atualmente.
O protótipo do novo avião será desenvolvido em parceria com a Lockheed Martin, que vai receber cerca de US$ 20 milhões ao longo de 17 meses para elaborar o design preliminar da aeronave e prover a documentação necessária para seu desenvolvimento. A novidade vai contar com um motor da GE, o F404 , que foi desenvolvido para aviões de combate, capaz de alcançar uma velocidade de 1,8 Mach (ou seja, 1,8 vez a velocidade do som). Além disso, a GE também colabora com o projeto por meio do “cycle deck”, um software que simula como o motor opera, ajudando, por exemplo, a calcular a propulsão e o consumo de combustível. A expectativa é de que os primeiros testes de voo sejam realizados a partir de 2019.
Já pensou se, no futuro, for possível ir do Rio a Paris em apenas seis horas? Essa opção existiu enquanto o Concorde operou no Brasil, entre 1976 e 1982. Não seria nada mal retomá-la!
Fonte: Galileu 25/07/2016