Serviços ainda pressionam inflação nos EUA e cautela do Fed deve continuar
Embora que alguns itens que tinham assustado o mercado em janeiro não tenham se repetido em fevereiro, economistas veem inflação de serviços ainda longe da meta do Fed
Os economistas viram sinais positivos na divulgação do índice de preços do consumidos (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos em fevereiro, mas há uma convicção de que os preços ainda estão em patamar alto e que o Federal Reserve (Fed o banco central americano) tem pouca margem para alterar sua estratégia cautelosa no curto prazo.
Francisco Nobre , economista da XP, afirma que, mesmo com o indicador mais alto em fevereiro (0,4% ante 0,3% em janeiro), o mercado acabou não reagindo muito mal aos dados. Isso porque alguns componentes que preocuparam muito em janeiro acabaram não se repetindo fevereiro.
Ele destaca que os serviços experimentaram boa desaceleração, de uma variação de 0,85% em janeiro para 0,47% em fevereiro. “Mas a gente reforça que 0,47% ainda é um número alto. Para que inflação convirja para a meta de 2%, as variações mensais têm que voltar mais ou menos para um patamar de 0,2%”, explica.
Ou seja, esse dado acaba reforçando a visão de que o estágio final do processo de desinflação ainda continua difícil. “Se olhar os últimos seis dados, teve uma reaceleração na inflação de serviços. Em termos anualizados, há seis meses a inflação estava rodando muito mais perto da meta”, compara, destacando que hoje esse índice ainda está por volta de 6%.
Para Nobre, esse processo de desinflação está acontecendo muito gradualmente e isso pode limitar o espaço para cortes de juros adiante. “Nosso projeção é que o primeiro corte deve vir em julho. É mais provável que o Fed tenha de segurar os cortes de juros do que acelerar o processo e flexibilização monetária”, comenta.
Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, houve uma moderação na alta referente à habitação em fevereiro, com desaceleração para 0,4% no mês. Mas ele lembrou que, na comparação anual, esse item ainda apresenta um índice elevado de 5,7%.
Ele citou ainda que houve uma aceleração dos preços de energia: após quatro meses consecutivos de queda, esses preços registraram um aumento de 2,3%, com a gasolina subindo 3,6% após o mesmo período de declínio.
“Embora ainda haja desafios a serem enfrentados, como a resistência persistente nos preços da moradia em comparação com outros itens que passaram por períodos de declínio e oscilação, é possível que o Fed encontre um ambiente mais propício para suas decisões futuras”, comentou.
Já Greg Wilensky, chefe de renda fixa nos EUA da Janus Henderson Investors, a má notícia hoje é que o núcleo da inflação ficou um pouco acima do nível esperado. Mas como compensação, a inflação imobiliária se comportou melhor e o aumento da inflação de alimentos no mês passado não se repetiu.
Para ele, o núcleo da inflação de serviços, excluindo os imóveis de moradia, continua a se mostrar resistente apesar da tendência de queda, mas parte dessa força está vindo de categorias que têm menos probabilidade de causar preocupação para o Fed, como passagens aéreas.
“A medida de inflação preferida do Fed, o núcleo da inflação PCE, continuará a se comportar melhor do que seu primo do CPI em fevereiro”, compara.
Para ele, o dado desta terça-feira significa que um corte das taxas em maio provavelmente foi eliminado do planejamento do Fed. “Ainda vejo junho como o mês mais provável para o primeiro corte, mas isso pode mudar para julho se os dados de inflação não começarem a melhorar no próximo mês”, afirma.
Já Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, ainda viu a inflação dos EUA aquecida em fevereiro. “O mercado aguardava o dado de hoje a fim de calibrar as expectativas em relação a um possível corte de juros ainda no primeiro semestre de 2024. Nós acreditamos que isso não vai ocorrer”, prevê.
“Ao olhar para a composição do CPI, vemos que os números não são condizentes com um corte no curto prazo. Na nossa visão, o início do ciclo de cortes só deve ocorrer no segundo semestre do ano”, estima
Ela lembra que a inflação de serviços, principal responsável por manter os números elevados, segue persistente e está em 5,2% no acumulado de 12 meses, com ajuste sazonal.
“Como esse segmento corresponde a mais de 70% da composição do núcleo do CPI, vemos o núcleo se estabilizando entre 3% e 4%, calcula. “Na nossa avaliação, o ritmo de desaceleração visto até agora é insuficiente para um corte de juros já no segundo trimestre.”