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Iata alerta para endividamento das cias aéreas na América Latina

A Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata) alerta que o endividamento continua a ser um problema potencial para as companhias aéreas em algumas regiões, e aponta as aéreas da América Latina como as mais vulneráveis.

A constatação da Iata, feita hoje cedo, ocorre um dia depois do pedido de recuperação judicial apresentada pela Aviancal, quarta maior companhia aérea do Brasil. O valor da dívida da companhia é de R$ 493,9 milhões, segundo contas do pedido de recuperação judicial protocolado na segunda-feira.

Ao Valor, o economista-chefe da Iata, Brian Pierce, ao ser indagado se a situação da Avianca seria um reflexo do resto da região, afirmou, sempre sem mencionar o nome da empresa que ” altos níveis de endividamento tornam mais difícil uma empresa se ajustar, porque são compromissos fixos. Tem que pagar dívida, pagar juros, pagar dividendos a investidores, ou seja, as empresas tem menos flexibilidade”.

Pierce  deixa claro que a vulnerabilidade de aéreas na América Latina está vinculada ao Brasil. ”O problema é que a recessão no Brasil deteriorou a região, porque o país representa dois terços do PIB regional. Com a recessão, o faturamento (das aéreas) foi muito fraco. Além disso, como as commodities são tão importantes para a região, quando o preço do petróleo caiu em 2015, tivemos grande impacto no câmbio e isso realmente  dificultou muito a situação de companhias aereas na região”.

Indagado se a situação da Avianca é algo para se preocupar, o economista-chefe da Iata preferiu focar na região como um todo. ‘Temos companhias boas, houve muita reestruturação na região, que de fato melhorou o desempenho financeiro dessas empresas. Realmente depende do mercado e de circunstâncias particulares’.

De seu lado, o vice-presidente para as Américas da Iata, Peter Cerdá, observou que o pedido de recuperação judicial da Aviana Brasil não é algo isolado na América Latina. Disse que somente este ano uma companhia quebrou no Peru, outra no Chile também passou por crise e duas encerraram o negócio no Peru. A diferença é que eram empresas menores.

”O mercado brasileiro é muito competitivo”, declarou. Para ele, é o mercado que deve dizer se há muitas companhias aéreas no Brasil ou não, para eventualmente ocorrer mais consolidação no setor. 

Em apresentação a jornalistas hoje cedo, o economista-chefe Brian Pierce mostrou em um gráfico que as companhias aéreas da América Latina aparecem como as mais vulneráveis quando se considera a relação entre dívida e arrendamentos operacinais (“debt adjusted for operating leases”).

Conforme a Iata, um forte fluxo de caixa livre de aéreas na América do Norte e Europa permitiram uma redução da dívida. Agora empresas de nível médio nessas duas regiões tem quase o grau de investimento. Isso reduz suas vulnerabilidades para o caso de um choque no fluxo de caixa ou de aumento de taxas de juros.

No entanto, observa a Iata, algumas regiões continuam vulneráveis. Mas Peter Cerdá ressalva que o mercado brasileiro é atrativo e pleno de oportunidades. Tem 100 milhões de passageiros por ano, no momento, e a estimativa da Iata é de quetenha 94 milhões de passageiros até 2037.

Cerdá aproveitou para se queixar mais uma vez do custo do combustivel no Brasil, calculando que as companhias gastam US$ 255 milhões a mais com esses pagamentos no país.

Sobre o futuro governo, de Jair Bolsonaro, a Iata visivelmente tem expectativas positivas. Acha que vai ser mais amigável para os negócios e, por tabela, para as companhias aéreas.

Fonte: Valor 12/12/2018

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