Sobe registro de balões perto de aeronaves e aeroportos no país
Em apenas sete meses, o ano de 2016 já tem 312 registros de balões perto de aeronaves e aeroportos. O número é praticamente o observado em todo o ano de 2014 ou de 2015 (336 e 325, respectivamente) e, segundo pilotos e administradores de aeroportos, trazem insegurança à aviação do país.
Os dados são gerados por pilotos e operadores aeronáuticos e registrados pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), da Aeronáutica.
De acordo com o levantamento, o Estado de São Paulo é campeão no registro de balões próximos a áreas de voo, com 61% dos casos. Em segundo e terceiro lugares estão o Rio de Janeiro, com 23%, e o Paraná, com 10% das ocorrências, respectivamente.
Próximos ao aeroporto de Guarulhos, o mais movimentado do país, foram registrados 69 balões em 2016. A administração local diz que, de janeiro a junho deste ano, 39 balões caíram no terreno do aeroporto. Ou seja, mais de três quedas a cada quinzena.
Em alguns desses casos, ainda em chamas, os balões caem próximos a tanques de combustível ou de aeronaves. Para o Sindicato Nacional dos Aeronautas, que representa a tripulação de companhias aéreas, campanhas recentes feitas por associações de pilotos impulsionaram os registros de proximidade com balões.
“O que ocorria é que, mesmo sendo comuns, essas ocorrências não eram sempre registradas pelos pilotos”, diz Matheus Ghisleni, diretor de segurança do sindicato e piloto há 10 anos na aviação civil.
“As aeronaves são certificadas para suportarem o impacto de uma ave de 1,8 kg. Imagine o efeito de uma colisão com um balão que às vezes chega a carregar 300 kg de fogos de artifício”, explica.
Mas não é só o impacto que pode gerar risco ao voo. Em 2011, um avião que partiu do aeroporto Santos Dumont, no Rio, se chocou com um banner que estava sendo carregado por um balão a 3.000 metros de altitude.
O material se prendeu na fuselagem e entupiu os tubos de pitot de um Airbus A319. Com a obstrução, o avião que transportava 101 pessoas ficou sem a leitura digital de sua velocidade e altitude. Esse foi um dos defeitos que levaram, por exemplo, à queda sobre o Atlântico do voo 447, da Air France, em 2009.
Por isso, segundo o Cenipa, até mesmo balões que não utilizem fogo para propulsão são perigosos à aviação. No caso do voo que partiu do Santos Dumont, no Rio, o avião pousou em Belo Horizonte, em segurança.
A Polícia Militar Ambiental paulista disse que neste ano já apreendeu 118 balões ou partes de balões no Estado de São Paulo. No Rio, a polícia apreendeu 107 balões. Em uma única operação, há duas semanas, foram apreendidos 68 balões, com lanternas e fogos de artifício em uma casa.
A punição para quem fabrique, venda e solte balões vai de uma multa até três anos de prisão. Segundo as duas polícias ouvidas, é possível também que o baloeiro seja enquadrado no crime de expor aeronaves a perigo. Esse crime seria aplicável até em casos onde o balão não dispõe de material em combustão e é solto à base de ar quente.
REGULAÇÃO
Para o presidente da Confederação Brasileira de Baloeiros, Marcos Real, 51, a ameaça de balões a aeronaves é “exagerada” por setores da aviação. “Em 100 anos de convívio entre balões e aviões, não há relatos de acidentes no país”, disse.
Real afirma ainda que a regulação da soltura dos balões é o melhor caminho para que se afaste o risco de acidentes. Para isso, ele condena a soltura de balões com fogo ou fogos de artifício. Ele defende a soltura de balões em áreas controladas, com tempo de voo previsível e com aviso prévio à Aeronáutica. Atualmente um projeto de lei na Câmara tenta legalizar esta modalidade de balões.
Fonte: Folha de S. Paulo 01/08/2016