SMS 2017 traz mais autoridades internacionais para o segundo dia de palestras
O segundo dia do Safety Management Summit 2017 trouxe mais autoridades internacionais.
Abrindo o ciclo de palestras, a palavra foi passada para o Gerente de Programas e Políticas Internacionais da Administração Federal de Aviação (FAA), Robert Ruiz, que falou sobre “SMS para pequenas organizações – desafios regulatórios”.
Mais uma vez, o conceito de colaboração foi evidenciado como sendo parte fundamental de todo processo de trabalho.
Segundo Ruiz, é fundamental simplificar a regulamentação para pequenas organizações.
Dentre as suas considerações, o Ruiz evidenciou que “a gestão da segurança deve ser de propriedade de gerentes operacionais, e não da manobra de segurança. O pessoal de supervisão local deve ter uma fonte de conhecimento disponível de forma adequada”.
O segundo tema, “Segurança Operacional em aeroportos – uma abordagem pragmática”, fico a cargo do consultor especialista em Aviação Civil, Manuel Ayres.
Ayres iniciou sua apresentação trazendo um panorama dos padrões físicos dos aeródromos, destacando que os padrões físicos da Organização de Aviação Civil Internacional (OACI) e da FAA foram estabelecidos entre as décadas de 50 e 60, sofrendo algumas atualizações e adaptações desde então.
“Na elaboração ou revisão de estudos aeronáuticos, é essencial compreender o racional usado no desenvolvimento desses padrões”, comenta o especialista.
Os principais riscos de fatalidades, de acordo com estatísticas da Boeing, acontecem dentro ou próximo a aeroportos. Perda de controle, voo controlado em relação ao solo e excursões de pista (incluindo pousos antes da cabeceira) estão entre os mais frequentes. Isso mostra o quanto a Segurança Operacional deve atentar para os cenários dentro de aeroportos.
Ayres levantou as principais questões de Segurança Operacional nos Aeroportos, destacando as não-conformidades com os padrões da certificação; o controle de obstáculos; a operação de aeronaves de código superior; e o controle rotineiro de riscos operacionais.
Um tópico de alta prioridade apontado diz respeito à RESA (Runaway End Safety Area – Área de Segurança de Fim de Pista), que evita os acidentes com pousos antes da cabeceira.
De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), RESA é a “área simétrica ao longo do prolongamento do eixo da pista de pouso e decolagem e adjacente ao fim da faixa de pista, utilizada primordialmente para reduzir o risco de danos a aeronaves que realizem o toque antes de alcançar a cabeceira (undershoot) ou que ultrapassam acidentalmente o fim da pistade pouso e decolagem (overrun)”.
Justamente atentando para a RESA, a FAA coordenou projetos de prolongamento de pistas em aeroportos dos Estados Unidos, o que salvou muitas vidas em acidentes que, sem as intervenções realizadas, seriam certamente fatais.
Outros riscos significativos, ainda dentro de aeroportos, ocorrem nos pátios, como, por exemplo, a interface entre aeronaves e equipamentos de apoio no solo, representando cerca de 60% dos riscos.
Segundo Ayres, vários aeroportos apresentam não-conformidades e é preciso lidar com elas. Para tanto, ele apresenta três alternativas:
– Eliminar as não-conformidades;
– Adotar um Acordo Operacional (quando possível); e
– Elaborar um Estudo Aeronáutico, cujo fator mais importante é a sua abrangência.
Ayres ressaltou que tais estudos – como as análises de risco quantitativas – não devem, de maneira alguma, justificar as não-conformidades e, sim, apresentar soluções para corrigi-las ou elimina-as.
“Os Estudos Aeronáuticos devem demonstrar que as operações podem ser mantidas em um nível aceitável de Segurança Operacional”, destaca.
Sobre a Análise de Impacto sobre a Segurança Operacional (AISO), o especialista levantou os momentos mais adequados para sua aplicação, como qualquer mudança que possa impactar as operações, tendências indesejáveis nos indicadores de Segurança Operacional, planos e projetos no lado ar, eventos especiais, acidentes e incidentes e novos procedimentos.
Por fim, em suas considerações finais, Ayres ressaltou a relevância da percepção pública dos riscos e a atenção que se deve prestar a eles, tendo por ação consequente as medidas mitigadoras (como por exemplo, o fechamento temporário de uma pista).
Ele propõe reflexões que impactam na Segurança Operacional, como: os nossos aeroportos que estão atingindo os limites de capacidade, o fato de estarmos partindo para a auto regulação e a falta de espaço para construção de novas pistas.
Citando palavras do John Kennedy, Ayres finaliza dizendo que “a mudança é a regra da vida”.
Após um breve intervalo, chegou a vez da Gerente de Programas de Segurança da Organização Civil de Navegação Aérea (CANSO), Kimberly Pyle, e do representante da NAV Canada, Greg Myles, que trataram da “Cultura de Segurança Operacional no Serviço de Navegação Aérea (ANS)”.
Pyle apresentou um Guia dos Sistemas de Gerenciamento de Segurança, que evidencia a relevância de se manter e aprimorar a Cultura de Segurança Operacional.
A Segurança é feita por pessoas. Tudo que se faz aqui é tonar a viagem aérea segura.
“Existem 17 áreas de estudo e a primeira é a Cultura de Segurança. De maneira simplificada, o processo de segurança operacional passa por coletar dados, encontrar erros e os consertar. Nada funciona se as pessoas não estiverem envolvidas”, comentou Kimberly.
Segundo Myles, “se você não tem uma Cultura de Segurança que apoie as iniciativas e ações, nada acontece de maneira efetiva”. São três áreas de disseminação da Cultura: Nacional, Organizacional e Profissional. Estas esferas demonstram o nível de ação dos envolvidos, que devem estar unidos e alinhados em seus valores e no entendimento do que se espera para a Segurança Operacional.
As prioridades, os valores e, por fim, as atitudes, compõem a Cultura e ditam as condutas diárias de um grupo, uma organização.
“Mantenham em mente que tudo que fazemos tem um impacto, desde os pequenos gestos às maiores decisões”, ressaltou Kimberly, mostrando como tudo está interligado e impacta – positivamente ou não.
Myles apresentou o Guia da CANSO com declarações para uma Cultura de Segurança. De acordo com este documento, todos os profissionais envolvidos – dos gerentes aos operadores – são encorajados a se expressarem e reportarem seus apontamentos que levem à manutenção da segurança.
Se tivermos em mente que a segurança é feita por todos, toda informação que possa proteger pessoas e processos é mais que bem-vinda. É crucial.
Além do reporte de informações, tirar um aprendizado é igualmente importante. “De nada adianta ter uma informação se não fazemos nada com ela, se não aprendemos com o erro”, comenta Pyle.
Flexibilidade também faz parte da Cultura de Segurança. “Saber se adaptar a novos cenários pode fazer toda a diferença”, destacou Myles.
“Os gerentes, coordenadores, diretores não são deuses. Não sabem de tudo. Por isso, precisam que todos colaborem com o compartilhamento de informações. Precisam dos reportes para ficarem cientes do que ocorre na organização e basear suas ações e decisões”, enfatiza Kimberly.
Quando alguém erra, não significa que o fez de maneira proposital. Todos cometem erros e devem ser consolados e orientados para que não incorram no erro novamente.
Falar de Cultura de Segurança Operacional é falar de pessoas que protegem pessoas.
Em seguida, a especialista em Qualidade da Segurança e Performance Humana da EUROCONTROL, Marinella Leone, apresentou o tema “Gerenciamento de Energia e Resiliência”.
“Basicamente vim falar sobre o Fator Humano”. Assim Marinella abriu sua apresentação, após elogiar o evento e agradecer por todo conhecimento que adquiriu até o momento.
Descobrir como o Fator Humano impacta na Segurança. Segurança não se resume a equipamentos. Trata de processos e procedimentos, que tratam, em suma, de pessoas.
“O estudo do Fator Humano é sobre a compreensão do comportamento e da performance humana. Quando aplicado às operações aéreas, à aviação, este conhecimento visa otimizar a relação entre pessoas e sistemas (equipamentos e procedimentos) que operam em prol da segurança e da performance”, comenta Leone.
Pessoas aprendem na prática. Por isso atentar para treinamentos e experimentação é altamente relevante.
Uma questão levantada por Marinella é a dos pontos de pressão – internos e externos – que impactam em muitos níveis (físico, emocional, mental e de comportamento). E estes impactos envolvem os resultados alcançados pelo grupo, pela organização e, portanto, devem ser levados em consideração, acompanhados e trabalhados.
Treinamento e desenvolvimento são prioridades quando se pensa em prevenção e segurança operacional.
Pessoas não são máquina e seguimos tentando trata-las como tal. Assim, ensiná-las a poupar e renovar sua energia irá permitir que produzam mais e com mais qualidade.
Ser resiliente é estar adaptado ao ambiente circundante. É poder lidar bem com as mudanças. Ter uma visão holística do ser humano contribui para esta busca de equilíbrio – intelectual, social, físico, emocional e até nutricional.
Fechando as apresentações, foi realizado o debate com perguntas os participantes.
Fonte: DECEA 08/12/2017