Os problemas da aviação comercial na África
Uma das explicações para esta situação pode ser encontrada em decisões tomadas, por exemplo, pela União Europeia, que só em 2015 impediu 108 companhias aéreas de sobrevoarem o seu continente, entre as quais estavam 14 de diferentes países africanos.
Por outro lado, a penetração que grandes empresas aéreas de aviação estão a fazer pelo mercado do continente africano retiram muitos passageiros a pequenas companhias, tendo sido especialmente afectadas as que estão registadas na Zâmbia, Serra Leoa, Moçambique, nos dois Congos e no Sudão do Sul.
Um outro factor que pode explicar a diminuição do número de passageiros que usam a globalidade das companhias africanas é o que se prende com algumas dificuldades de gestão que fazem com que a oferta de serviços fique aquém da que é disponibilizada pelas grandes operadoras internacionais.
Mesmo na ligação entre cidades africanas, que antigamente eram quase um exclusivo de companhias continentais, começa a surgir uma oferta mais diferenciada, com tarifas mais baixas e serviços mais aliciantes.
A juntar a estas dificuldades, acresce a que advém também do facto de as grandes companhias internacionais recrutarem no mercado africano alguma da sua mão-de-obra, sobretudo entre as e os assistentes de bordo que, aliciados por melhores remunerações e mais ambiciosas perspectivas de carreira, não hesitam em abandonar o seu país, enfraquecendo deste modo as empresas africanas a que pertenciam.
A questão da dificuldade no estabelecimento de rotas directas entre diversas capitais africanas leva muitos passageiros a terem que fazer uma escala em países europeus, o que não só atrasa toda a sua viagem como também a torna particularmente mais cara.
Para quem quer viajar e se dirige a uma agência de viagens para adquirir o seu bilhete o que mais importa é chegar mais rápido, pelo menor preço e com um serviço que satisfaça as suas exigências básicas de passageiro. As companhias africanas, a braços com crescentes problemas de tesouraria resultantes de uma gestão muitas das vezes bastante desajeitada, ficam deste modo impossibilitadas de manter uma concorrência saudável com as suas parceiras internacionais.
Essa impossibilidade, logo à partida, reflecte-se directamente nas dificuldades financeiras para conseguir a renovação da sua frota que possa oferecer aos passageiros a confortável sensação de segurança e conforto.
Sem novos aviões e com os antigos a ficarem cada vez mais velhos, a imagem que é traduzida para o exterior aconselha o passageiro a deixar de lado sentimentalismos patrióticos para adoptar por uma escolha que o faça, também a si, sentir-se um cidadão do mundo moderno. Para tornear todos estes problemas, que não são poucos e podem levar à falência muitas companhias africanas, algumas delas optaram por estabelecer parcerias de gestão internacional.
Essas parcerias, estabelecidas com companhias de se evidenciam, precisamente, por terem uma gestão cuidadosa e que prioriza a economia de custos como base para oferecer um melhor serviço aos seus clientes, tem sido a tábua de salvação a que muitas empresas africanas se agarram para não se deixarem afundar.
Trata-se de um negócio que, se fôr bem conduzido, trará benefícios a todas as partes e sobretudo aos passageiros, que assim ficam muito melhor servidos, tanto em termos de conforto como de custos. A Associação Internacional dos Transportes Aéreos (IATA) tem vindo a desenvolver esforços no sentido de proteger os interesses dos passageiros e de garantir que as companhias de aviação cumpram com as normas que estão estabelecidas para o seu funcionamento. No entanto, isto não tem impedido que não lhe sejam apontadas algumas críticas pela forma como tem vindo a discriminar companhias africanas em comparação com as de outras regiões, nomeadamente, do Médio Oriente e da América Latina.
A validação imediata, às vezes sem grande análise criteriosa, de algumas decisões emanadas pela União Europeia e que penalizam companhias africanas, muitas das vezes sem que se saiba muito bem porquê, é um assunto que tem levantado muita polémica e que dá daquela organização a ideia de estar a contribuir para que o negócio da aviação civil não seja totalmente igual para todos.
No meio de todo este cenário, seria imensamente injusto não reconhecer o esforço imenso que muitas companhias de aviação africanas estão a fazer para evoluírem num mercado cada vez mais competitivo, apostando numa constante renovação que as colocam ao nível das que melhor trabalham em todo o mundo.
O único problema é que esse desenvolvimento é feito de modo individual, não havendo, pelo menos para já, uma ideia de esforço conjunto que leve a acreditar na possibilidade de reedição de companhias que se unem sob uma bandeira africana para competirem com as que lhes estão a invadir diariamente o mercado.
Fonte: Jornal de Angola (01/03/2016)