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Identificar espécies pode reduzir colisão com pássaros e aumentar a segurança operacional

Considerando que a maioria das colisões deixam somente restos orgânicos e penas que impossibilitam a identificação das espécies envolvidas, o que pode ser feito para reduzir colisões nos aeródromos? Pesquisadores indianos afirmam que o código genético pode ser a chave para reduzir as colisões com fauna na aviação.

“A identificação de espécies auxilia a compreender o comportamento das aves e suas preferências por habitat e alimento. Tal informação ajuda no gerenciamento de risco de fauna ao reduzir as colisões”, diz Yogesh Shouche, cientista sênior do Microbial Culture Collection (MCC), National Center for Cell Science (NCCS) em Pune, na Índia.

“Da mesma forma que pagamos contas ou verificamos preços no supermercado por meio de códigos de barras que parecem semelhantes, mas que são diversos, o exame de sequencias genéticas pode diferenciar as espécies com precisão”, acrescenta.

No caso das colisões na aviação, grande parte dos eventos destrói as carcaças além do limite possível de identificação, deixando restos de material orgânico que, quando não identificados, significam a perda de informação para prevenir novas colisões, que mesmo sem causar acidentes, representam custos importantes à aviação.

“Bancos de dados genéticos são gerados com o uso de amostras de espécies autenticadas, facilitando a futura identificação de restos oriundos de colisões com aeronaves, que podem utilizar penas, sangue e fluidos semelhantes. Atualmente, não existe tal tipo de banco na Índia, apesar de existirem bancos globais que nem sempre contem espécies que sejam endêmicas daqui, diz Shouche”.

“No Brasil, a situação é semelhante, apesar da popularização e consequente barateamento da análise genética. A própria essência do Sistema de Gerenciamento de Segurança Operacional (SGSO) prevê a identificação de perigos, sem a qual não é possível efetuar o gerenciamento de risco, mostrando a importância da universalização deste procedimento no setor aéreo nacional”, afirma o Ten Cel Henrique Rubens Balta de Oliveira, do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA).

De acordo com a autoridade de aviação indiana, em 2010, foram registradas 378 colisões, quantidade que passou para 719, em 2014. Mas, colisões com fauna não causam somente prejuízos financeiros, reduzindo também a disponibilidade de aeronaves, além de causarem a morte de milhares de aves todos os anos no mundo e de colocarem em risco a vida de seres humanos a bordo de aeronaves e no solo.

No Brasil, o CENIPA mantém o banco de dados nacional com média de 1.557 colisões/ano, no mesmo período. Os dados brasileiros de 2015 ainda estão sendo verificados para corrigir erros e buscar maior precisão nos registros.

Shouche e sua equipe analisaram 52 eventos recebidos da Marinha Indiana de 2011 a 2014. “Nós identificamos 16 espécies diferentes, a coruja-da-igreja e o abibe-do-índico como as mais comuns, provavelmente, porque estas fazem ninhos em prédios e áreas gramadas próximas a pistas de pouso, devido à disponibilidade de alimento”, explica o cientista. O DNA também ajudou os pesquisadores a identificar espécies que não são aves, como 3 espécies de morcegos. Segundo o Ten Cel Rubens, “a primeira espécie acima e um primo da segunda (quero-quero) se envolvem frequentemente em colisões no Brasil”.

“A identificação de aves envolvidas em colisões não é uma prática regular na Índia. Isto é feito em alguns aeroportos, como Mumbai e Bangalore, por especialistas em morfologia. Entretanto, tal identificação é difícil quando a carcaça não é encontrada, pois penas limitam a mesma e manchas de sangue a inviabilizam” acrescenta Shouche.

“No Brasil, a identificação também não é tão ampla quanto deveria, tendo em vista que o ideal seria a identificação de espécies em todas as colisões. Todavia, o CENIPA já realiza a análise genômica, com apoio do Departamento de Polícia Federal, em casos específicos descritos nos sítios eletrônicos do Centro”, informa o Ten Cel Rubens.

Fonte/Imagem: Cenipa (07/02/2016)

 

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