Diretor comercial da Embraer X fala sobre o eVTOL
RIO – Formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp, com pós-graduação em marketing, André Stein é funcionário de carreira da Embraer. Em mais de duas décadas na empresa atuou na expansão dos negócios para a Ásia e, posteriormente, ajudou a implementar o plano de marketing estratégico para a América Latina. Desde março, ele ocupa a diretoria de estratégia da Embraer X, um braço da companhia que busca novas oportunidades de negócios com tecnologias disruptivas.
Uma das principais apostas da subsidiária é uma espécie de carro voador que ele diz, em entrevista ao GLOBO, não ser um futuro tão distante. O projeto será o tema da palestra de Stein no Wired Festival, uma realização de Edições Globo Condé Nast e O GLOBO, com patrocínio da Embratel, da cervejaria Ambev e de Johnnie Walker, apoio do Grupo Pão de Açúcar e participação da WeWork. O evento acontece nos dias 30 de novembro e 1º de dezembro, na Casa França-Brasil e no Centro Cultural Correios, no Centro do Rio.
É possível imaginar que num futuro próximo iremos embarcar em aeronaves da Embraer como se fossem táxis?
As coisas estão acontecendo mais rápido que a gente imaginava. A ideia de voar dentro das cidades não é nova. Santos Dumont voava em Paris com os seus dirigíveis no início do século passado. Então, a ideia absolutamente não é nova, mas estão surgindo novas tecnologias que estão viabilizando isso. Não é apenas uma tecnologia, são várias, que estão alimentando toda a cadeia. Tem o veículo, o gerenciamento do tráfego aéreo, a automação na navegação… Tudo isso ajuda a criar um ecossistema. Então, a resposta é sim, é possível vislumbrar esse futuro.
Em Dubai, já existe esse tipo de serviço em funcionamento, não é?
Comercialmente, ainda não. Já existem veículos desse tipo, conhecidos pela sigla eVTOL, de Electric Vertical Take-Off and Landing, que, popularmente, as pessoas chamam de carros voadores. Nós não somos os únicos que estamos entrando nesse segmento, e isso é bom, porque ajuda a movimentar a cadeia inteira. Mas, comercialmente, ainda não tem ninguém voando.
Em que estágio está o eVTOL da Embraer X?
Está indo bem, mas ainda não existe um protótipo voando. O que acontece é que muitas start-ups que estão entrando no mercado correm para fazer o veículo voar. A gente não tem essa preocupação. Saber voar de maneira segura a gente já sabe muito bem. Nós temos uma parceria com a Uber, para eventualmente chegar a uma operação comercial em 2023. Mais do que sermos os primeiros, nós queremos ser os primeiros a acertar.
Se voar não é um desafio, quais as barreiras que vocês estão enfrentando?
Existem algumas questões tecnológicas que preocupam bastante. Por exemplo, a bateria. Nós estamos no caminho de construir um veículo 100% elétrico, porque a gente acredita que isso reduz os custos de operação, além de reduzir os ruídos e respeitar a questão ambiental. Nesse sentido, a bateria é um dos grandes desafios tecnológicos. E, se você pensar que essas aeronaves irão voar dentro de espaços urbanos, o controle de tráfego aéreo também é desafiador, da mesma forma que a navegação autônoma das aeronaves.
O design do eVTOL será como o de um drone gigante?
Seria um misto entre drone e avião. O drone aproximou essa visão do público, mas temos outras características. Apenas aumentar o drone não necessariamente vai oferecer um voo seguro. É preciso trazer conhecimentos da aviação. A nossa configuração, que não necessariamente é a final, traz características dos drones, mas tem a asa, que é o método mais eficiente de se voar para frente.
O serviço de táxi aéreo já existe. Qual é o diferencial desse projeto?
A nossa meta é democratizar a aviação urbana. Não é pensado apenas para executivos, é para gente como a gente. Pelo custo, a gente quer algo acessível, para todo mundo. Talvez não seja para você ir todo dia para o trabalho voando, mas, quando você quiser chegar em casa mais cedo para o aniversário do seu filho, ele estará lá.
Como serão os pontos de pouso e decolagem?
O eVTOL precisa de alguma infraestrutura capaz, por exemplo, de recarregá-lo. Ele não vai ser recarregado numa tomada de 110 volts. Então, existirão “vertiportos”. Não necessariamente serão os heliportos atuais, serão novos “vertiportos”. Existem outras empresas pensando nisso. Os pontos serão distribuídos pelas cidades, em tamanhos diferentes. Haverá pontos grandes, para vários veículos, outros menores, para um ou dois.
O Brasil pode ser um dos primeiros a receber o serviço?
Nós estamos focando em mobilidade aérea urbana em geral, e a nossa grande parceira é aUber. Eles anunciaram duas cidades nos EUA para começar os experimentos, Dallas e Los Angeles, e estão avaliando uma terceira cidade, que, necessariamente, seria fora dos EUA. Cinco países são considerados: Japão, França, Índia, Austrália e Brasil, com duas cidades, São Paulo e Rio de Janeiro. São Paulo é o mercado natural para esse tipo de serviço.
Qual é a importância da Embraer X para a companhia?
O foco da Embraer X é gerar novos negócios. E isso a gente consegue fazer de maneira mais ágil. A Embraer X é superenxuta, são pouquíssimas pessoas, e, sempre que temos um projeto novo, a gente encontra os recursos necessários, seja dentro ou fora da Embraer. Temos as pratas da casa, como eu, e profissionais vindos do Vale do Silício. Nós estamos na área da aeronáutica, mas temos antropólogos, bibliotecários, vários perfis que ajudam a compor a solução.
Fonte: OGlobo 11/11/2018