Indústria

'Avião elétrico' une a WEG e a Embraer

Dois grandes nomes brasileiros da inovação no setor industrial, a fabricante de máquinas e equipamentos WEG e a Embraer, de aeronaves, deram um primeiro passo conjunto rumo ao avião elétrico. No início da tarde de ontem, em São José dos Campos (SP), representantes das duas companhias assinaram um acordo de cooperação científica e tecnológica para desenvolver motores elétricos aeronáuticos.

O primeiro voo de teste de um monomotor movido 100% a eletricidade, de curta duração, pode acontecer em 2020, ou já no fim deste ano, a depender do ritmo de evolução dos trabalhos.”Ainda estamos na fase de pesquisas. Projetando para o futuro, o novo produto ainda depende de vários outros projetos. Mas, para voos curtos, a realidade talvez não esteja tão longe”, disse ao Valor o vice-presidente executivo de Engenharia e Tecnologia da Embraer, Daniel Moczydlower. Entre os grandes desafios da indústria aeronáutica global está justamente a sustentabilidade, e o uso de biocombustíveis e o desenvolvimento de uma nova geração tecnológica de sistemas de propulsão atendem a essa demanda.

Há experimentos ao redor do mundo para eletrificação também das aeronaves, a exemplo do que já ocorre na indústria automotiva, mas ainda não existe solução comercial disponível. O peso da bateria, parcialmente compensado pela maior eficiência dos motores elétricos, é um dos obstáculos que precisam ser contornados.Foi a Embraer que procurou a WEG, no fim de 2017, para mostrar um projeto de pesquisa em aviação. 

A empresa catarinense tem anos de tradição em propulsão elétrica e já desenvolveu motores para trens, navios, ônibus e caminhões. Com a Volks Caminhões e Ônibus (VWCO), estabeleceu uma parceria para desenvolver o primeiro híbrido Volksbus e-Flex projetado no Brasil. As conversas com a Embraer começaram no início do ano seguinte e culminaram na assinatura de ontem. “É uma parceria quase que natural se olharmos o DNA das duas empresas, que dominam o ciclo de desenvolvimento de produtos inovadores”, afirmou Moczydlower.

Segundo o diretor superintendente da WEG Automação, Manfred Peter Johann, o acordo de cooperação pode, potencialmente, abrir um novo mercado para a companhia no futuro.Antes disso, porém, trará um “ganho tecnológico muito grande”, elevando a empresa a um novo patamar em termos de motores elétricos. “Nossa tecnologia de ‘powertrain’ nos habilitou ao projeto”, afirmou.

Por enquanto, a parceria não tem viés comercial e está focada em pesquisas e desenvolvimento pré-competitivo. A proposta é unir a experiência da WEG em motores elétricos e da Embraer em aeronáutica, acelerando o ganho de conhecimento. Em nota, porém, as companhias reconhecem que o avanço nas pesquisas pode gerar oportunidades de novas configurações aeronáuticas no futuro, além do desenvolvimento de novos segmentos de mercado.As pesquisas já estão sendo conduzidas por equipes de cada companhia, em Jaraguá do Sul (SC) e São José, e cada uma arcará com os custos relacionados ao desenvolvimento de protótipos.

O maior investimento neste momento, explicou Johann, diz respeito às horas de engenharia, montagem do protótipo e ensaios. Na etapa final do acordo, após os testes em laboratório, as equipes trabalharão juntas em um mesmo ambiente, para montar o avião elétrico.A plataforma escolhida foi a do monomotor EMB-203 Ipanema, usado para pulverizar defensivos agrícolas e cujas missões típicas duram cerca de uma hora. Para dar lugar à bateria elétrica, parte da carga do monomotor será retirada. “Esse é o primeiro passo para voar uma plataforma 100% elétrica. Depois vai se introduzindo mais complexidade”, disse o executivo da Embraer.

A Embraer trabalha na separação do ativos de aviação comercial, como parte de um acordo bilionário com a Boeing, que serão transferidos para a Boeing Brasil – Comercial, na qual terá participação de 20%. Vão ter também uma joint venture na área de Defesa, que será controlada pela brasileira.

Fonte: Valor Econômico 30/05/2019

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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