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Entrevista – Cassio Polli, Diretor Comercial da Aèrie 

Cassio Polli fala sobre a Aviação Executiva no Brasil da perspectiva de um empreendedor, como Diretor Comercial da empresa Aèrie Aviação Executiva. Fala também sobre sua visão do mercado, os atuais desafios da aviação e suas perspectivas para o futuro desse mercado.

Cassio Polli nascido e criado em Jundiaí, fundou sua empresa em 2004 atuando com compra, venda, importação e exportação de aeronaves executivas. Após 14 anos no ramo, apresenta mais de uma centena de aeronaves vendidas e atua também com serviços especializados, suporte técnico e consultoria corporativa.

A Aèrie iniciou no mercado de aviação executiva em 2004 e vem acompanhando todo o progresso desde então. Qual é a sua visão sobre o mercado brasileiro durante esses anos na aviação executiva?

Assim como acontece em nível mundial, o Brasil teve altos e baixos neste período, motivado ora por fatores políticos e econômicos internos, ora por eventos internacionais, relacionados a crises e outras variáveis.

O mercado doméstico de aviação executiva teve um auge de interesse e demanda em 2008, coincidente com a crise financeira nos Estados Unidos. Nos anos seguintes, devido principalmente à restrição de crédito internacional, sentimos um forte impacto nas vendas de aeronaves. O cenário permaneceu restritivo e a crise econômica no Brasil acentuou a saída, devoluções e exportações de aeronaves entre 2015, 16 e 17, que somaram mais de 600 desregistros – baixas de matrícula na ANAC neste período.

Observou-se ainda, além das crises políticas e econômicas, uma crise de decisão, junto ao empresariado e usuários da aviação executiva, que postergaram trocas ou novas aquisições, essa situação pode ser sentida até o momento das pré-eleições presidenciais, em outubro passado.

Ainda não houve tempo suficiente para mensurar um resultado efetivo, até porque novos rumos políticos e econômicos só serão conhecidos a partir de janeiro/2019, mas o que já se pode constatar é um aumento das consultas e atividades no setor.

Nosso mercado é enorme e com muitas oportunidades, tem necessidade de deslocamentos aéreos executivos para cobrir as localidades não atendidas pelas companhias aéreas. Seguimos atentos à essa tendência de recuperação e continuar contribuindo com o desenvolvimento do nosso país.

Ainda sobre o início da Aèrie até os dias atuais, foi necessário adaptar os serviços da empresa às novidades do mercado com o passar dos anos? De que forma isso aconteceu?

Num mercado extremamente dinâmico e agressivo, é indispensável atualização constante, manter a aderência aos clientes e principalmente atenção aos fatores que impactam no negócio. Como “respiramos aviação executiva” e primamos pela excelência em tudo que fazemos, mantemos uma busca diária por novas formas de atender nossa demanda, dar respostas assertivas e principalmente fazer certo da primeira vez. Trabalhamos para que a experiência dos nossos clientes seja a melhor possível.

Por exemplo, quando o câmbio do dólar atingiu o patamar de R$4,00, observamos que algumas aeronaves ficaram competitivas para venda no exterior, então reforçamos nossa parceria internacional (de 10 anos) com a Fortune Jet Group e passamos a exportar aeronaves brasileiras.

Assim, atentos as tendências e movimentos do mercado, adaptamos as ferramentas necessárias, ajustando a vela a favor do vento, para seguir adiante.

Na sua opinião o que é preciso para garantir o desenvolvimento do mercado aeronáutico, em especial do mercado de compra e venda de aeronaves?

Num segmento tão específico como aviação executiva, “os commodities” da relação comercial já são esperados pelos clientes, não são diferenciais. Neste sentido, evidenciamos nosso DNA ético, de compromisso, credibilidade e confiança e os clientes percebem e recebem os benefícios de trabalhar com empresas sérias. Isso promove o desenvolvimento mútuo, de todas as competências e profissionais envolvidos numa transação, como principalmente o sucesso da operação e satisfação dos clientes.

A Aèrie faz suas importações também via Trading. Sendo a pioneira no mercado, de que forma esse negócio impulsionou a compra e venda de aeronaves no país?

Em 2004 o especialista aeronáutico em despachos aduaneiros, e amigo, Wilson Guedes me apresentou a possibilidade de importar aeronaves via Trading. Naquela época havia somente duas tradings listadas no Ato Cotepe, a Cisa Trading e a Pro Import Brasil. Identificamos a oportunidade e fizemos a primeira operação de importação de aeronave usada para um cliente do Rio Grande do Sul. O projeto foi um sucesso e seguimos com várias outras importações na mesma modalidade. A partir de então, criou-se toda cadeia de serviços via trading que temos hoje. Como em vários setores, a carga tributária é alta para aeronaves, a partir da identificação dessa nova modalidade de importação, os empresários tiveram a oportunidade de importar uma aeronave com benefícios fiscais, por uma via 100% legal e isso de fato impulsionou as atividades de compra e venda de aeronaves.

De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Aviação – IBA, em maio de 2018 o número de turboélices é cerca de 51% maior que o número de turboélices em dezembro 2010 e o número de helicópteros é cerca de 37% maior que o número de helicópteros em dezembro de 2010. É possível observar essa preferência de compra através da empresa Aèrie?

Sim, sem dúvida. Turboélice sempre foi a categoria com maior demanda na AERIE, mesmo com a chegada dos VLJs: Cessna Citation Mustang e Embraer Phenom 100, que conquistaram um importante espaço, aeronaves como o King Air, Pilatus, Meridian, etc., encontram ambiente ideal para sustentar as vendas no Brasil, devido às características de robustez, confiabilidade, versatilidade operacional: leva peso, pressurizado, pousos e decolagens em pistas não preparadas, etc. Os helicópteros seguem o mesmo caminho, se consolidando em definitivo no nosso mercado, só que com outros apelos: como deslocamentos ágeis em grandes centros, etc. Mesmo com a saída / exportação de muitos equipamentos neste mesmo período, os “muito ricos” seguiram comprando principalmente biturbina. Atentos à essa demanda crescente, no auge da crise política e econômica no Brasil, final de 2016, a AERIE estruturou uma divisão exclusiva, com um profissional 100% dedicado para atuação com helicópteros.

Considerando todo o avanço tecnológico que as fabricantes apresentam todos os anos, que tipo de inovações no setor da Aviação Executiva te chama atenção?

A aviação “puxa a fila” de uma série de inovações, que vão desde os avanços em aviônicos, tecnologia de materiais, comunicação, etc., que em seguida são adaptados para vida cotidiana em diversas aplicações. Apenas uma pequena parcela dos operadores de aeronaves executivas tem acesso aos avanços tecnológicos de ponta, pois estão disponíveis apenas em aeronaves novas. O custo para atualização de aeronaves usadas ainda é muito alto no Brasil e também encontra restrições na legislação, que não permite a instalação sem a devida validação de projeto (Supplemental Type Certificate / STC) pela ANAC.

O que chama mais atenção são os sistemas de monitoramento de parâmetros em tempo real, programas de cálculo e planos de voo (aplicativos), retrofits de painel por versões “touch”, que adiam substancialmente a obsolescência funcional, entre outros.

Qual é sua expectativa de médio e longo prazo para a aviação executiva, principalmente no Brasil?

Nossa expectativa é a mais otimista possível…, depois de atravessar um período de “turbulências severas”, visualizamos um céu de oportunidades de negócios para aviação executiva no Brasil.

Na conjunção de tamanho do país, localidades servidas por linhas aéreas regulares, necessidades de deslocamento, etc., desenha-se um cenário próspero para retomada de importações de aeronaves, retomada do crescimento da aviação executiva e desenvolvimento do país.

Instituto Brasileiro de Aviação 12/12/2018

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