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Aéreas do país não vão quebrar, mas aviação não será a mesma, diz Abear

O presidente da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), Eduardo Sanovicz, afirmou em entrevista ao UOL que, apesar da grave crise causada pelo novo coronavírus, as companhias aéreas brasileiras apresentam uma situação financeira saudável. “Não vejo [risco de falência]. Isso não está no nosso cenário. As empresas estão bastante saudáveis e os dados são bastante confortáveis até o momento”, afirmou. Ele também disse que a aviação não será mais a mesma após a pandemia (veja a íntegra da entrevista no vídeo acima).

Apesar de descartar o risco de quebra de alguma companhia aérea, o presidente da Abear afirmou que uma das principais reivindicações do setor neste momento é a abertura de uma linha de crédito por parte do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

A expectativa é que sejam concedidos entre R$ 2,5 bilhões e R$ 3,5 bilhões para cada uma das três maiores companhias aéreas do país (Gol, Latam e Azul). O presidente da Abear, no entanto, fez questão de ressaltar que não se trata de subsídios, mas de um empréstimo.

“Hoje, o nosso grande problema é o crédito para que possamos atravessar um período no qual as receitas despencaram. Eu diria que 65% a 70% do nosso desafio está no equacionamento dessa linha de crédito. É público que estão em debate a taxa de juros e a precificação das ações em uma debênture que o BNDES pretende emitir”, afirmou.

Futuro do setor é incerto em todo o mundo

Apesar de se dizer confiante na sustentabilidade financeira das companhias aéreas brasileiras, o presidente da Abear afirmou que é difícil fazer qualquer projeção para o futuro neste momento. Segundo ele, o cenário é único em toda a história da aviação.

“A aviação como nós a conhecemos é de 1945, na conferência que cria a ICAO (Organização de Aviação Civil Internacional) ao final da Segunda Guerra. Desta data para cá, não há paralelo que nós possamos comparar e tomar como referência histórica”, afirmou.

De acordo com Sanovicz, as projeções que estão sendo feitas por enquanto ainda são baseadas em “premissas frágeis”. “A única coisa que dá para afirmar, com certeza, é que não será a mesma aviação, porque não será o mesmo mundo”, disse.

Mais carga do que passageiros

A queda na demanda de passageiros fez com que as companhias aéreas reduzissem os voos domésticos em 91,61%. A chamada malha aérea essencial conta com apenas 1.241 voos semanais, em comparação com os 14.781 voos do período anterior à crise.

Os voos englobam as 26 capitais brasileiras e mais 16 cidades. As rotas foram definidas em acordo com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para garantir o abastecimento em todas as regiões do país.

Antes da redução dos voos, o presidente da Abear afirmou que as empresas tinham um custo diário de cerca de R$ 45 milhões.

Mesmo com a redução dos voos, o presidente da Abear afirmou que atualmente os aviões transportam mais carga do que passageiros. “Os primeiros dados são de que os porões estão voando com uma ocupação bastante alta, em algumas rotas quase 100%. Os passageiros seguem em um volume bastante baixo, em algumas rotas abaixo de 25% ou 30%”, disse.

Passageiros adiam em vez de cancelar viagem

Um das primeiras medidas do governo para ajudar as companhias aéreas foi prorrogar para até 12 meses o prazo para que as empresas efetuassem o reembolso das passagens aéreas. Segundo o presidente da Abear, a maioria dos passageiros, no entanto, optou por adiar suas passagens em vez de cancelar a reserva e solicitar o reembolso do valor pago.

“Aproximadamente 85% a 87% dos passageiros estão prorrogando suas viagens, trocando de data, e de 13% a 15% têm pedido reembolso dos seus bilhetes”, afirmou.

Segundo o presidente da Abear, esses dados se referem a viagens para os próximos 180 dias, antes de alta temporada de verão no país.

Difícil prever como serão os preços das passagens

Em relação aos preços das passagens, o presidente da Abear afirmou que qualquer palpite no cenário atual é mero exercício de futurologia. Além da mudança de todas as rotas domésticas e internacionais, do comportamento dos passageiros, a aviação ainda deve sofrer o impacto da alta do dólar. “Após isso, espero primeiro uma volta do dólar a algo perto do normal”, afirmou, ressaltando que novo normal da moeda norte-americana é na casa dos R$ 4.

Por outro lado, Sanovicz destaca que houve também uma queda no preço do petróleo. Com tantas incertezas, no entanto, o presidente da Abear afirmou que não é possível dizer agora como será o comportamento dos preços. “Cravar preço final de bilhete para daqui a seis meses nesse cenário é absolutamente insensato”, disse.

Retomada com voos domésticos

Quando houver a retomada da demanda por viagens aéreas, Sanovicz segue a mesma linha de estudos internacionais que apontam que os passageiros devem preferir viagens mais curtas para destinos domésticos no Brasil.

“Creio que o primeiro passo da retomada vai ser o voo doméstico de curta distância porque vai estar muito ligado ao sentimento de segurança pessoal. Digamos que você tenha um plano de saúde e que não tenha cobertura internacional e vai viajar logo depois da pandemia. Você vai para um outro estado brasileiro e sabe que está dentro da sua cobertura, porque na eventual hipótese de ter um problema você sabe que está coberto”, afirmou.

Viagens corporativas são um desafio para o futuro

Entre as muitas incertezas futuras para o setor aéreo, está saber como será o comportamento das viagens corporativas. O passageiro empresarial é responsável pela maior parte da receita das companhias aéreas. Alguns analistas já avaliam que deve haver uma diminuição das viagens, que serão substituídas por reuniões em videoconferências.

“Essas reuniões fáceis de serem transformadas em situações de videocall vão para isso, em encontros de pequenos grupos. Eu não vejo um congresso internacional de engenharia, uma feira do automóvel sendo extinta. Então, não creio que seja correto dizer que o mercado será fortemente afetado. Todos os segmentos serão afetados de alguma forma. O que ninguém sabe dizer ainda é o que será afetado e o que vamos colocar no lugar”, afirmou.

Confira a entrevista:

Fonte: Uol Economia 11/04/2020

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