Tecnologia

Campanha de testes mostra que inspeção em voo usando RPAS pode se tornar realidade

Cada dia mais presentes no cotidiano, não é exagero dizer que os drones vieram para ficar. Quer seja para uso recreativo ou profissional, fato é que os RPAS (do inglês, Remotely Piloted Aircraft Systems) são uma realidade que acompanha a acelerada evolução digital. 

Entre as inúmeras vantagens na sua utilização estão a facilidade na operação, as tecnologias embarcadas e, principalmente, ser uma alternativa acessível, de baixo custo e eficiente em várias funções. 

Na agricultura e pecuária, por exemplo, pode ser utilizado em pelo menos 15 atividades, como a análise da plantação, acompanhamento do desenvolvimento da safra e até pulverização. 

Também pode ser empregado no monitoramento de áreas públicas, no mapeamento aéreo, na coleta de imagens fotográficas ou, ainda, para fazer entregas de produtos ou gêneros alimentícios. 

Não é preciso ser expert no assunto para perceber que gradativamente novas possibilidades de utilização têm sido colocadas à prova, o que faz com que o drone ganhe espaço, visibilidade e aplicações em áreas até então inexploradas. 

Com foco na economia e na acuracidade da informação, um caminho que vem sendo adotado por alguns países, incluindo o Brasil, é a inspeção em voo usando Aeronaves Remotamente Pilotadas. 

No Brasil existem mais de 900 auxílios à navegação, distribuídos de Norte a Sul, que são inspecionados regularmente desde a década de 50. A função de aferir estes equipamentos que auxiliam o tráfego de aeronaves é do Grupo Especial de Inspeção em Voo (GEIV), organização militar subordinada ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA). Por ano, são realizadas, em média, 1.200 inspeções em voo. 

Em 2016, o GEIV iniciou testes para utilização de aeronaves remotamente pilotadas na aferição de auxílios à navegação. Em 2019, o trabalho ganhou impulso com uma nova estrutura criada pela Portaria DECEA nº 11, de março de 2019, que passou a reunir três unidades da Força Aérea Brasileira. 

Além do GEIV, o Instituto de Controle do Espaço Aéreo, o ICEA, organização militar responsável pela pesquisa e desenvolvimento do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro, e o Instituto de Estudos Avançados, que tem como atividade fim a ampliação do conhecimento científico e o domínio de tecnologias estratégicas para fortalecimento do poder aeroespacial brasileiro. 

Com a criação de um Grupo de Trabalho (GT) foi definido um cronograma de execução dos testes e um estudo para aprimoramento e aperfeiçoamento das ferramentas utilizadas na inspeção. De acordo com o Coordenador do GT, Major Aviador Mateus Habermann, Chefe da Subdivisão de Sensoriamento Remoto do IEAv, o primeiro passo foi conhecer o Manual de Inspeção em Voo. 

“Primeiro buscamos entender matematicamente o problema, ou seja, como a aeronave faz a inspeção em voo. A partir deste ponto fizemos uma adaptação do que deveria ser feito pelo drone”, explicou. 

Uma das primeiras ações práticas foi a instalação de um APAPI, equipamento similar ao PAPI (do inglês Precision Approach Path Indicator, sistema de luzes brancas e vermelhas que auxilia no pouso de aeronaves), em frente ao prédio do IEAv. 

O equipamento foi transportado e montado pelo Parque de Material de Eletrônica da Aeronáutica do Rio de Janeiro (PAME-RJ), organização militar subordinada ao DECEA, responsável pelo suporte logístico e de manutenção do SISCEAB. 

O objetivo da instalação do APAPI fora de um aeródromo, portanto sem a função de auxílio à navegação aérea, foi à realização de testes de inspeção em voo usando drones, sem que isso interferisse na operação de um aeroporto. 

Sua função foi a de permitir o treinamento da equipe do IEAv, tanto no que se refere à definição da metodologia de testes quanto a forma de captação de informações do drone. O Instituto desenvolveu um sistema específico para a coleta de dados. 

Entendendo as diferenças 

A aeronave laboratório do GEIV faz a aferição do PAPI em rampa de descida a aproximadamente cinco quilômetros da cabeceira da pista, ou seja, o piloto consegue visualizar as informações do auxílio ao equivalente a três milhas náuticas. A medição acontece até ser definido o ponto ideal da calibração do auxílio para aproximação e pouso de aeronaves. 

Para fazer uma inspeção em voo, o GEIV precisa de dois pilotos, um mecânico, um ou dois operadores de sistema de inspeção em voo e dois operadores de teodolitos, que ficam em solo para fazer as medições necessárias. 

Também é fundamental a presença de uma equipe de manutenção a postos para realizar os ajustes de calibração dos auxílios, caso seja requisitados. Todos os equipamentos devem estar de acordo com os padrões internacionais preconizados pela Organização da Aviação Civil Internacional (OACI). 

O Capitão Aviador Rodrigo Pereira Drumond, piloto inspetor do GEIV, conta que algumas inspeções podem levar até quatro horas para ser concluídas, dependendo do fluxo do tráfego aéreo da localidade. 

Utilizando o drone da fabricante chinesa DJI, o grupo de trabalho iniciou os testes repetindo as ações da aeronave do GEIV, a partir de uma distância menor. “Com drones homologados e pilotos experientes, já tínhamos uma boa noção de como o auxílio funciona. A partir dos primeiros testes, a equipe estava bem preparada e treinada, com a ajuda do PAME-RJ na instalação do APAPI”, esclareceu o Major Habermann. 

Após uma fase bem-sucedida de testes, foram realizados ensaios de inspeção no PAPI localizado no Aeroporto Professor Urbano Ernesto Stumpf, em São José dos Campos (SP). Com os resultados obtidos, o próximo passo foi mudar o local de testes para aplicar a mesma metodologia em outros aeródromos, com características diferentes de posicionamento dos auxílios e da pista. 

Na segunda semana de julho, foram realizados testes de inspeção em voo com drones na Academia da Força Aérea (AFA), em Pirassununga, interior de São Paulo, durante o recesso das aulas. Após coleta de dados inicial, no dia 10 de julho, uma aeronave laboratório inspecionou o mesmo auxílio para comparação dos valores levantados pelo MATRICE. 

“Esta é a melhor parceria que já tivemos. Estamos aplicando o conhecimento acumulado em anos, subproduto do projeto PITER de processamento de imagens em tempo real. São muitos especialistas juntos para encontrar uma solução em curto prazo. Este tipo de pesquisa é recente, esta expertise coloca a Força Aérea em posição pioneira na inspeção em voo com drones”, completou o coordenador do GT. 

Na semana seguinte foram realizados testes no Aeroporto do Rio de Janeiro Santos Dumont, na capital fluminense, durante o seu horário de fechamento, das 23 às 6 horas da manhã. Os dados de todos os levantamentos irão compor um relatório, que será apresentando ao Subdepartamento de Operações do DECEA. Em seguida terá início uma segunda fase de testes. 

Para o Capitão Cristian da Silveira Smidt, da Seção de Gerenciamento de Tráfego Aéreo do ICEA: “o desenvolvimento da tecnologia e da metodologia de inspeção em voo com o uso do RPA coloca o Brasil e a Força Aérea Brasileira à frente no uso da tecnologia neste campo de pesquisa. Além da economia em horas de voo das aeronaves do GEIV, o uso do RPA na inspeção em voo resultará na redução dos impactos operacionais que a inspeção destes auxílios pode gerar nos aeroportos, resultando em grande economia para todos os setores da aviação”. 

Após a conclusão do trabalho de pesquisa para o uso do RPA para a inspeção em voo de auxílios visuais, o próximo passo do Grupo de Trabalho será desenvolver a metodologia e tecnologia necessárias para a inspeção em voo de auxílios eletrônicos (ILS e VOR), trabalho que deverá ser desenvolvido nos próximos anos. 

Fonte: Departamento de Controle do Espaço Aéreo 02/08/2019

 

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