SNA sedia no Brasil encontro sobre gerenciamento de fadiga
Nos dias 10 e 11 de outubro, o SNA sediou pela primeira vez no Brasil o curso Ifalpa FTL-FRMS, que reuniu em São Paulo aeronautas, membros da comunidade acadêmica e representantes das empresas aéreas e da Anac para debater sobre sistemas de gerenciamento dos riscos da fadiga.
Com participantes vindos de 11 países, o evento se destacou como uma oportunidade ímpar para a troca de informações sobre como cada país e região, seus órgãos reguladores e seus operadores têm abordado o tema sob os prismas operacional e legal.
Partindo do viés técnico e do direcionamento prático, foram debatidos estudos científicos e programas de monitoramento da fadiga (Projeto Fadigômetro), programas de gerenciamento da fadiga em diferentes fases de implantação e funcionamento no Brasil e no exterior, e como os limites prescritivos têm sido trabalhados conforme as legislações mundo afora.
Sono, fadiga e sistemas de gerenciamento de riscos
Abrindo o evento em São Paulo, Adam Fletcher, professor da Universidade do Sul da Austrália e referência mundial nos estudos do gerenciamento dos riscos relacionados à fadiga no ambiente de trabalho, fez uma introdução à ciência por trás dos estudos do sono e fadiga.
As dificuldades e desafios enfrentados para entender como a fadiga afeta cada pessoa e potencializa os riscos para a operação, e como desenvolver um sistema eficaz de gerenciamento baseado nas particularidades de cada operação, em que todos os setores da área operacional falem a “mesma língua”, foram as linhas mestras das apresentações realizadas por Fletcher nos dois dias de evento.
Fadigômetro
Após a primeira apresentação de dados do Fadigômetro, realizada no dia 2 de outubro durante reunião da Comissão Nacional de Fadiga Humana, foi a vez da comunidade internacional ter acesso às mesmas informações preliminares, trazidas pelo comandante Tulio Rodrigues, diretor do SNA.
O pioneirismo do projeto e a maneira como pretende determinar o nível de exposição dos tripulantes da aviação regular brasileira aos riscos da fadiga, permitindo a proposição de estratégias para sua mitigação, chamou a atenção e despertou o interesse de todos os presentes.
Embasado pelo conhecimento e experiência do seu corpo técnico, o Fadigômetro demonstrou em seus números preliminares o potencial que possui para jogar luz sobre o tema e promover um crescimento quantitativo dos índices de segurança operacional no Brasil.
Azul e o FRMS na empresa
Trazendo o ponto de vista dos operadores para o debate, a Azul foi uma das companhias aéreas presentes, representada pelos comandantes Ivan Carvalho (Diretor de Segurança Operacional) e Caio Garcia (Coordenador de Fatores Humanos), ao lado da Latam, que esteve representada por Maria Angélica Aon (Fator Humano/DSO Corporativo).
A Azul abriu para os participantes a experiência de implementar um sistema de gerenciamento da fadiga em uma empresa de grande porte. Questões como cultura organizacional, cultura de segurança operacional, confiança entre empregado e empregador, funcionamento dos sistemas para reporte e montagem das escalas de voo, foram tópicos abordados.
A apresentação também contou com dados estatísticos, coletados por meio de reportes, pesquisas e eventos FOQA, a partir dos quais tem sido delineado o trabalho do departamento de fatores humanos na Azul.
Europa e América Latina
Os comandantes Javier Martín Chico, diretor da ECA (European Cockpit Association) e do Sepla (Sindicato Español de Pilotos de Líneas Aéreas), e Alejandro Juan Lópes Camelo, facilitador de fatores humanos e instrutor da Icao para SMS/SSP (Safety Management System/State Safety Program), complementaram as apresentações com a visão dos aeronautas, como categoria, sobre o gerenciamento da fadiga.
A maneira como os FMP (Fatigue Management Programs) têm sido trabalhados pelas companhias aéreas europeias dentro do escopo legal e das diretrizes da Easa (European Aviation Safety Agency), e como as empresas têm explorado os limites da regulamentação de voo deram o tom da apresentação do comandante Javier Martín Chico.
Por sua vez, o comandante Camelo, falando sobre a realidade atual dos sistemas de gerenciamento da fadiga e os requerimentos para sua implementação, focou na necessidade de aproximação (e coesão) entre os aeronautas latino americanos para que tenham voz ativa no debate sobre segurança de voo.
Ressaltando o trabalho de construção de confiança entre tripulantes e empresa feito pela Azul, o Projeto Fadigômetro e as ações dos aeronautas brasileiros, Camelo encerrou os dois dias de evento colocando em primeiro plano a “peça” sobre a qual recai tudo o que foi discutido: o aeronauta.
O SNA, assim como a Asagol, parabeniza os palestrantes e organizadores pelo alto nível apresentado e reforça o convite para que os aeronautas brasileiros tomem parte nas ações voltadas ao gerenciamento dos riscos da fadiga no país, apoiando o posicionamento da categoria quanto ao futuro RBAC de FRMS e participando do Projeto Fadigômetro.
Fonte: Aeronautas 16/10/2018.