Infraestrutura

Brasil terá a 1ª torre de controle virtual da América Latina

Uma sala semi-escura, uma bancada ao centro e grandes telas verticais formando um arco de 180 graus. À frente dos controladores de voo surgem imagens projetadas em tempo real da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. É em um ambiente desses que o Brasil vai operar a primeira torre de controle virtual da América Latina.

A torre convencional, aquela edificação de concreto com vidros na parte superior, vai dar espaço a uma estrutura de metal com câmeras de altíssima resolução localizadas no topo. De lá sairão as imagens que os controladores verão na sala, ao nível do solo.

O local escolhido pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) para a primeira estação do tipo é estratégico. Por ser um aeródromo militar, as operações não ficam sujeitas a regulamentos de órgãos civis, o que facilita a implementação do sistema chamado Torre Remota e Virtual (RVT, na sigla em inglês).

Ainda não há uma previsão exata de quando essa nova torre estará em funcionamento. O Decea trabalha no momento na documentação técnica para lançar o edital de licitação. Isso deve ocorrer ainda em 2017.

O custo ainda é incerto. Entretanto, estima-se que uma torre virtual saia por cerca de 20% a 30% do preço de uma torre física. Para levantar uma edificação de concreto e toda a estrutura necessária para o funcionamento, são consumidos entre R$ 30 milhões e R$ 40 milhões.

Benefícios

Em um primeiro momento, soa estranho que o controlador de voo não esteja de fato em uma torre de controle tradicional. Apesar disso, os benefícios da torre de controle virtual apontados pelo Decea vão além do custo reduzido.

“O imageamento e os sensores são melhores que o olho humano. O controlador vai ter uma visualização melhor em dias de nevoeiro ou com fumaça. Isso vai melhorar a acuidade do controlador.” Brigadeiro do Ar Luiz Ricardo de Souza Nascimento, chefe do Subdepartamento de Operações do Decea.

A ideia do Decea é testar o sistema em Santa Cruz por tempo indeterminado. No início, haverá uma operação paralela, em que as torres física e virtual funcionarão ao mesmo tempo, até o momento em que a estrutura de concreto seja desativada. Esse período de testes é considerado fundamental para confirmar a total segurança do sistema.

“É um conceito novo, diferente, mas sempre baseado em uma operação segurança. Jamais acrescentaríamos algum fator que colocasse em risco a segurança. Vamos manter a operação segura, com fluidez, mas com um alicerce tremendo da tecnologia.” Brigadeiro do Ar Luiz Ricardo de Souza Nascimento.

Após esse laboratório em Santa Cruz – a torre virtual ficará lá mesmo -, o Decea pretende levar a tecnologia para aeródromos civis, especialmente aqueles com menor movimento de aeronaves. Isso daria espaço, por exemplo, para que uma única RVT pudesse controlar mais de um aeroporto.

Se um aeroporto tem no máximo cinco movimentos por dia, não faz sentido a construção de uma torre física e o deslocamento de pessoal para dar suporte a essas poucas operações. Tem lógica, no entanto, que três aeroportos semelhantes sejam controlados virtualmente a um custo mais baixo e com maior qualidade na prestação de serviço. É basicamente apertar um botão para mudar as imagens nas telas

“É um tema novo nessa área de controle do tráfego aéreo. Vamos colocar em prática e a sociedade vai se beneficiar disso. É uma grande oportunidade para aeródromos que hoje não têm torres por falta de recursos.” Brigadeiro do Ar Luiz Ricardo de Souza Nascimento.

Exemplos internacionais

A torre de controle virtual é uma tecnologia tão nova que somente dois aeroportos no mundo operam totalmente nesse modelo. Os precursores foram os suecos, que desde abril de 2015 controlam remotamente o aeroporto de Örnsköldsvik, localizado a 530 quilômetros da capital Estocolmo.

Nesses dois anos, mais de 8 mil movimentos foram acompanhados desde a base remota em Sundsvall, 150 quilômetros ao sul de Örnsköldsvik.

“O controle de tráfego aéreo remoto tem funcionado exatamente como esperávamos e não notamos nenhuma diferença em relação a antes. A segurança de voo e a eficiência se mantiveram altas e boas como se estivéssemos operando com uma torre convencional.” Robert Gyllroth, diretor do aeroporto de Örnsköldsvik.

Depois desse primeiro teste em Örnsköldsvik, a LFV, órgão que administra a aviação civil na Suécia, adicionou Sundsvall-Timrå ao rol de aeroportos controlados remotamente, em novembro de 2016. Em breve, o aeroporto de Linkoping também abandonará a torre de controle tradicional.

Futuro

O grande passo para as torres remotas e virtuais será dado na Inglaterra. A previsão é que em 2019 o aeroporto de London City, localizado no coração da capital britânica, seja totalmente controlado a partir de Swanwick, a 150 quilômetros de Londres.

É lá, na sede do Nats, empresa que gerencia o tráfego aéreo no país, que serão instaladas 14 telas que mostrarão não apenas imagens do aeroporto, mas também todas as aeronaves ao redor de London City, devidamente identificadas e com informações que uma torre de controle convencional não é capaz de mostrar.

“Torres digitais vão transformar os serviços de tráfego aéreo, ao fornecer benefícios reais em segurança, operação e eficiência. E estamos contentes em saber que o aeroporto de London City escolheu trabalhar conosco para implementar a primeira torre desse tipo no Reino Unido.” Mike Stoller, diretor de aeroportos do Nats.

London City recebeu 85.169 pousos e decolagens e movimentou 4,54 milhões de passageiros em 2016.

London City começará a operar torre virtual em 2019.

Fonte: AviaçãoJor 13/09/2017

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