'Podemos ser mais rentáveis', diz novo presidente da Azul
O americano John Rodgerson vai liderar a substituição da frota da companhia aérea por jatos mais eficientes da Embraer e Airbus.
O americano trabalha na Azul antes mesmo de a companhia aérea existir. Considerado um braço direito do empresário americano-brasileiro David Neeleman, fundador da empresa, Rodgerson mora há 12 anos no Brasil e ajudou a preparar o plano de negócios da Azul, empresa aérea lançada em dezembro de 2008. Na última segunda-feira (24), ele foi anunciado como novo presidente da empresa.
Rodgerson vai liderar a transformação da frota da Azul, que vem sendo substituída por aeronaves Airbus 320 neo. Para ele, essa mudança abre espaço para queda de preços nas passagens aéreas.
Leia a seguir a entrevista do G1 com Rodgerson:
Qual seu principal plano como presidente da Azul?
Temos uma grande transformação da frota para ser feita nos próximos cinco anos. Nós vamos pegar as novas tecnologias do novo Airbus A320neo e também do novo E2 (jato da Embraer de segunda geração). Então o meu trabalho é tirar as aeronaves da velha geração e colocar aeronaves de nova geração. Isso vai nos ajudar a ser mais eficientes.
O que isso significa para os passageiros?
Esse avião (A320 neo) consome menos combustível e tem um custo por assento menor. Então nós podemos baixar as tarifas um pouco e ainda ser mais rentáveis com essas aeronaves.
E quando isso vai acontecer?
Já está acontecendo. Nós já estamos trazendo essas aeronaves.
Essa redução de tarifas é um desejo seu ou de fato existe uma tendência de queda de preços?
As aeronaves A320 neo tem um custo 29% menor. E os E2 virão depois, com 25% de redução de custo. Com isso, eu gostaria de reduzir a tarifa média para trazer mais pessoas para viajar.
E seus investidores vão gostar disso?
Sim, eles vão gostar. Porque a minha margem vai ficar maior, porque vamos reduzir custo. É o que temos que fazer para ser mais rentáveis. Eu gostaria de dizer que nós controlamos a tarifa média, mas isso não é verdade. É o mercado que controla isso. Se fosse o contrário, teríamos aumentado 10% todas as tarifas durante a crise para cobrir perdas, mas o mercado não responde assim. O que estou dizendo é que essas aeronaves são mais eficientes e dá para gente baixar tarifa em muitos mercados e ser mais rentável.
Quando a Azul começou, o David Neeleman costumava exaltar que era a única empresa brasileira que voava com avião brasileiro. Mas a Azul vem investindo pesado no Airbus, que é francês. O que mudou?
Precisa ter um pouco de cuidado com isso. O Embraer sempre vai ser o carro-chefe da Azul, a maior frota. Mas agora a Airbus trouxe uma nova tecnologia que chegou 3 anos antes da Embraer. Nós temos que aproveitar esse momento. Hoje nós somos o maior comprador do Embraer E2. Se todas as aeronaves estivessem aqui, eu pegaria todas.
A mesma lei que não permite que empresas aéreas sejam controladas por estrangeiros também não permite que elas sejam dirigidas por estrangeiros. E você é um estrangeiro sendo presidente de uma empresa aérea brasileira. Isso não vai contra a legislação?
Não. Nós cumprimos a legislação. Deixa eu explicar: eu sou presidente da Azul SA (holding) e o David é presidente da Azul Linhas Aéreas. Isso ficou um pouco confuso no mercado. Todo mundo acha que estou indo para o lugar do Antonoaldo, mas realmente eu fui para lugar do David (na presidência da Azul SA). E o David veio para Linhas Aéreas. Estamos cumprindo a lei, sim. O David e o Flavio, nosso diretor de operações, que representam a Azul frente à Anac. E tem mais uma questão que explica essas mudanças nos cargos. Depois de um ano da abertura de capital, o David não poderia ficar como presidente da Azul SA e presidente do conselho de administração da empresa. Ajustamos isso.
Mas quem manda na empresa?
Eu gostaria de dizer que eu sou chefe do David. Mas você sabe melhor do que eu que eu não sou (risos). Então ele que vai continuar mandando na Azul. E ele é brasileiro.
Qual é a sua opinião sobre esse projeto de permitir 100% de capital estrangeiro no setor aéreo?
Eu não vejo qual o problema eles estão tentando resolver com isso. Precisa disso para trazer capital para o país? Nós levantamos R$ 1 bilhão de capital nos últimos 18 meses.. Então eu não vejo o que isso vai resolver. O Brasil seria um dos únicos países do mundo que poderia ser 100% capital estrangeiro. Nós passamos a pior crise dos últimos 100 anos no Brasil. Se tivéssemos um dono estrangeiro numa empresa aérea, ele tinha levado todas as aeronaves do Brasil.
Então você é contra?
Eu sou contra, se não recebermos reciprocidade. Não faz sentido. A United pode me comprar, mas eu não posso comprar uma empresa nos Estados Unidos. Eu seria a favor se valesse para ambos os lados. Essa é minha posição.
Azul é uma das acionistas da companhia aérea portuguesa TAP e as duas empresas têm o mesmo controlador (David Neeleman). Há uma integração pela frente?
Podemos fazer muitas coisas juntos. Eles voam para 11 cidades no Brasil e a gente voa para Lisboa. Estamos combinando a frota e trocando ideia sobre custos. Eles têm nos procurado para falar sobre cultura e comunicação com o mercado. As empresas nunca vão se unir e sempre serão duas empresas separadas. Mas a TAP foi um investimento importante para Azul, que é dona de 40% da empresa.
A ida do Antonoaldo para o conselho da TAP vai favorecer isso?
Sim, isso vai ser super positivo. Ele vai ter um assento no conselho e uma função executiva na TAP. Somos muito amigos e acredito que vamos falar quase todos os dias. Estamos torcendo um pelo outro.
A empresa mandou aviões para a TAP durante a crise. Vocês vão voltar a aumentar a frota este ano?
O número de aeronave vai ficar quase igual, mas em número de assentos vamos crescer 12%. São aviões maiores.
Você acha que a crise brasileira já passou?
Eu acho que a crise ainda não passou, mas ela estabilizou. Parou de piorar, mas a crise vai passar quando retomarmos o crescimento de verdade. É uma situação bem melhor do que a do ano passado. Mas nós já estamos entregando bons resultados com esse mercado. Então imagina o que somos capazes de fazer se tivermos um mercado forte no Brasil.
Uma nova regra da Anac permitiu que as empresas cobrassem pelo despacho de mala. Como está a implementação?
Nós temos muitos passageiros que estão viajando sem mala, porque eles estão com desconto. Quem entende isso pensa ‘puxa, estou fazendo um bate e volta para o Rio vou comprar passagem mais barata’. Vamos começar a vender passagens mais customizadas. Com mala ou sem, janela ou corredor, cada passageiro tem a sua preferência.
Mas efetivamente teve uma queda de preço para quem viajou sem bagagem?
Com certeza as pessoas que agora viajam sem males estão pagando um preço menor. Mas precisa considerar que esse é apenas um dos fatores que definem o preço. Há também a alta e baixa temporada e fatores macro do Brasil que são mais impactantes.
Que tipo de iniciativas de segmentação interessam à Azul? Marcação de assento, venda a bordo, o que está no radar?
Acho que todas essas estão no nosso radar. Quanto mais pudermos customizar um assento para o cliente, melhor para todo o mundo.
Fonte: G1 26/07/2017