Você sabe o que tem dentro do "nariz" do avião?
O radome precisa ser resistente e ao mesmo tempo permitir a passagem das ondas de radar (Thiago Vinholes)
A parte frontal de um avião a jato, onde fica o “radome”, é um componente extremamente complexo e delicado. Essa peça deve ser muito resistente, pois precisa suportar as forças aerodinâmicas e eventuais “birdstrikes” (colisão com pássaros) e impactos com chuva de granizo, e ao mesmo tempo ser “permeável” para permitir a passagem das ondas de radar, que fica alojado atrás do “nariz” da aeronave.
“Dentro do radome estão instalados a antena do radar meteorológico, a antena da rampa de planeio (equipamento que auxilia no pouso) e a antena do localizador, todos do sistema de navegação da aeronave”, explicou Alexandre Peronti, diretor do centro de manutenção (MRO) da companhia aérea Tam, ao Airway.
O radome é projetado para permitir alta transmissão, baixa reflexão e baixa absorção das ondas de radar, além de minimizar erros de visão periférica dos radares. “Isso é possível devido a utilização de materiais e métodos de confecção de altíssima tecnologia”, revela Peronti.
Segundo o especialista da Tam, o radar de um avião comercial, como o Airbus A320, pode “enxergar” até 630 km à frente, antecipando as condições climáticas que a tripulação pode enfrentar. “Esse mesmo radar também pode detectar áreas de turbulência a até 72 km de distância e tesouras de vento (uma rápida variação na direção e velocidade do vento) a 9 km”, conta o especialista da Tam.
Os radomes de jatos comerciais são fabricados a partir de uma moldura de alumínio, para dar contorno e permitir a instalação na aeronave, e um casco feito de materiais compósitos (Kevlar e fibra de carbono), que dá a forma aerodinâmica e garante a resistência estrutural necessária. E como todos os outros componentes de um avião, deve ser leve. A espessura de um radome não passa de 10 mm.
Detalhe da antena de radar de um Boeing 737 da Gol (Thiago Vinholes)
O nariz de um jato também possui “descarregadores estáticos”, compostos por tiras metálicas coladas ao longo das estruturas do radome, que por sua vez são conectados à moldura metálica da aeronave. Essa solução é necessária para evitar o acúmulo de eletricidade estática devido ao “impacto” com o ar durante um voo, e também para garantir a dispersão elétrica no caso de um raio atingir o avião. Se não houver essa proteção, a parte frontal da fuselagem pode literalmente sofrer um curto-circuito se atingido por uma descarga elétrica natural.
Periodicamente, o radome de aviões comerciais é desmontado e revisado minunciosamente. Devido a delicadeza dos materiais aplicados, essa oficina tem temperatura monitorada e também existe um cuidado especial com resíduos externos.
A oficina de radomes da TAM possui um rígido controle de temperatura e resíduos (Thiago Vinholes)
Antes de entrar nessa sala de manutenção, é necessário passar por um corredor de controle onde o piso é coberto por uma película adesiva que recolhe os resíduos que possam estar na sola dos sapatos dos técnicos.
“A revisão do radome é um processo vital, pois deve garantir a manutenção de todas as características originais de projeto, atendendo aos mesmos requisitos, para assegurar que o componente terá a mesma performance durante toda sua vida”, finalizou Peronti.
Fonte: Airway UOL 04/05/2016