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Embraer conversa com Boeing para combinação de negócios

A fabricante brasileira de aviões Embraer e a gigante americana Boeing anunciaram ontem que estão negociando uma possível associação. A transação, tratada como “uma potencial combinação de seus negócios” em comunicado conjunto divulgado pelas empresas, pode, segundo analistas, envolver a venda de parte do capital acionário da Embraer à Boeing.

Em comunicado ao mercado, a Embraer afirmou que as “bases (de um acordo) ainda estão sendo discutidas” e que não há garantias de que uma transação poderá ser alcançada.

A informação de uma negociação foi publicada inicialmente no “Wall Street Journal”, em reportagem que falava sobre conversas da Boeing para uma possível aquisição da Embraer. As ações da Embraer dispararam mais de 30% depois da notícia.

A notícia sobre as tratativas entre Boeing e Embraer vem a público pouco mais de dois meses depois de a Airbus anunciar a compra do projeto de jatos comerciais C-Series da canadense Bombardier. Boeing e Airbus disputam a liderança do mercado de mundial aviação comercial, enquanto a Bombardier é a maior rival da Embraer no segmento de jatos de médio porte.

— Esse rumor de uma eventual parceria entre as duas já vem de algum tempo, principalmente depois do movimento da Airbus. A Boeing e a Embraer também têm linhas de produtos complementares, e juntas, além de ganhos naturais de escala e sinergia, poderiam atender qualquer tipo de demanda — diz o advogado Guilherme Azevedo, especialista em aviação do escritório SBZ Advogados.

As duas companhias já têm diversas parcerias, focada por projetos, mas desta vez os americanos querem algo maior, focado em aviação civil. Para a Boeing, seria uma forma de tentar frear a expansão da Airbus e ter um portfólio idêntico à da europeia: a empresa brasileira atua em um segmento que não é atendido pela americana.

A fabricante brasileira é líder na produção de jatos com capacidade de 70 a 146 lugares (o novo modelo E195-E2), usados por companhias de todo o mundo em rotas regionais. Também já possuiu uma fábrica na Flórida, o que facilitaria sua entrada no mercado americano e parcerias mais abrangentes com a Boeing. A companhia americana, por sua vez, produz aviões maiores com longo alcance.

Para a Embraer, que tem 58% no mercado de jatos regionais, seria uma forma de ter respaldo em um momento que a China, o Japão e a Rússia tentam abocanhar este mercado, com o apoio de governos que seguem o exemplo dos subsídios canadenses à Bombardier. Isso gera uma enxurrada de questionamentos na Justiça.

— Também pode ser uma oportunidade para a Embraer ter acesso a toda a plataforma comercial da Boeing. Neste setor, questões sobre pós-venda, manutenção e treinamento são tão importantes quanto o valor das aeronaves — afirmou Pablo Bentes, diretor de Comércio Internacional e Investimento da Steptoe & Johnson, escritório de advocacia especializado em disputas comerciais que está atuando nas diversas frentes do setor em entidades como a Organização Mundial de Comércio (OMC).

A concretização das negociações entre as duas companhias, contudo, dependerá da anuência do governo brasileiro, que detém a chama “golden share”, uma ação de classe especial que lhe dá direito de veto à venda do controle, entre outros poderes. Fontes próximas à empresa americana reconhecem a dificuldade de uma compra direta da Embraer, mas estudam uma solução que garanta o controle brasileiro da companhia e, ao mesmo tempo, que a empresa americana tenha voz na divisão dos jatos comerciais da Embraer.

 Perguntado há uma semana sobre como pensava em enfrentar a associação de Airbus e Bombardier, o presidente da Embraer, Paulo César de Souza e Silva, disse não temer o novo concorrente:

— O concorrente é mais forte, mas há duas coisas que nos valoriza. Primeiro, a Airbus validou o segmento (em que atuamos). Com a associação ela diz “existe mercado aí”. A outra é que a Airbus não está desesperada. Ou a Bombardier vendia seu projeto ou morria. Então, a Airbus não vai vender avião abaixo do custo (como os canadenses vinham fazendo, o que levou ao Brasil a abrir um Painel na OMC contra a canadense) — disse Souza e Silva, completando: — Então, temos um competidor mais forte, com maior capacidade de suporte, mas que vai atuar dentro das regras. Não temos medo.

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, cidade onde se situa a sede da Embraer e a maioria de suas linhas de produção no país, já informou nesta quinta-feira que repudia a “possibilidade de compra” da companhia pela norte-americana Boeing.

Fonte: O Globo 21/12/2017




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