Indústria

Após 3 anos de retração, aviação executiva respira

O maior encontro da aviação executiva na América do Sul, que começa hoje em São Paulo, deve confirmar a recuperação da demanda por aeronaves particulares, após três anos de retração. A retomada das vendas tende a se dar via modelos mais baratos e pode ganhar tração no quarto trimestre, quando o quadro político for definido nas urnas, dizem executivos ouvidos pelo Valor.

“Se não tivermos uma feira melhor, com mais vendas que em 2017, será uma surpresa”, diz Leonardo Fiuza, presidente da TAM Aviação Executiva (TAM AE), empresa de táxi aéreo controlada pela família Amaro. Os organizadores da 15ª edição da Latin American Business Aviation Conference & Exhibition (Labace), que será realizada até quinta-feira no Aeroporto de Congonhas, trabalham com a expectativa de um aumento de 20% nas vendas, em relação ao evento do ano passado. Em 2017, a feira recebeu expositores de 130 marcas. Neste ano, 145 marcas estão confirmadas.

A TAM AE é a representante no Brasil da americana Textron, que fabrica aviões das marcas Cessna e Beechcraft, e helicópteros Bell. Fiuza disse que a empresa deve vender neste ano cerca de 45 novos aviões, ante 40 negócios fechados em 2017. “Uma parte dessas vendas será fechada na Labace”. A média histórica de vendas por ano, antes da recessão, era de 50 a 60 aeronaves comercializadas. Em 2016, a empresa fechou apenas 23. “Estamos melhorando, mas ainda não chegamos ao nosso padrão histórico”, diz Fiuza.

Segundo o executivo, neste ano as unidades de manutenção e serviços de taxi aéreo da TAM AE estão com faturamento cerca de 10% acima do registrado em 2017. “A aviação executiva é um reflexo da atividade econômica. A gente vem percebendo uma retomada dos negócios”, diz ele, que também preside o conselho da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag).

O Brasil tem a segunda maior frota mundial de aviação geral, com 14 mil aeronaves em operação, sendo 770 jatos. Segundo a Abag, entre 2014 e 2016, a movimentação (pousos, decolagens, horas voadas) e a comercialização de aeronaves novas e usadas caiu cerca de 40%.

O diretor de vendas de aeronaves da Líder Aviação Executiva, Philipe Figueiredo, já sente uma recuperação. “Estamos voando este ano cerca de 10% mais que em 2017”, diz. A Líder é uma das três maiores empresas de aviação executiva do país, ao lado da TAM AE e da Icon Aviation, do empresário Michael Klein. “A melhora da economia traz um otimismo para crescimento em todas as unidades da Líder”, diz Figueiredo.

Os executivos ponderam que a consolidação dessa retomada do setor ainda depende de um horizonte mais claro. E isso passa pela política, por causa das eleições de outubro. “Notamos uma retomada em 2017 e a nossa expectativa é que o mercado volte a crescer mais fortemente, após as eleições”, afirma o diretor da área de importação de aeronaves da Razac Trading, Luis Ferraz, que atua no comércio exterior de aeronaves.

“O mercado não aceita muito bem a volatilidade. Quando o cenário político for definido, a tração do ritmo de negócios deve ganhar força”, disse Figueiredo, da Líder. “O mercado brasileiro ainda não apresentou uma reação tão forte como a que vemos, por exemplo, nos Estados Unidos”, disse Fiuza.

Os Estados Unidos estão por trás da melhora na demanda global, respondendo por cerca de 70% das novas encomendas de aviões particulares, segundo dados da General Aviation Manufacturers Association (Gama), que reúne as maiores fabricantes e operadoras da aviação executiva. Foram entregues entre janeiro e junho deste ano 1.054 aviões, ante 1.001 um ano antes, em negócios da ordem de US$ 8,6 bilhões, valor 5% menor que o apurado um ano antes.

A retração no valor das entregas de aviões particulares ocorreu por causa dos modelos mais vendidos, de menor preço médio. Enquanto entregas de aviões a pistão e turboélices cresceram 6,4%, somando 750 unidades, os jatos entregues somaram 296 unidades no primeiro semestre deste ano, mesma quantidade registrada no primeiro semestre de 2017.

“Embora os resultados deste trimestre sejam mistos, destacamos a demanda firme na América do Norte e a procura por aeronaves para treinamento, que vem impulsionando o aumento nos segmentos de aviões a pistão e de helicópteros”, afirmou o presidente da Gama, Pete Bunce.

No segmento de helicópteros, as entregas cresceram 6,7% no primeiro semestre deste ano ante igual período de 2017, somando 494 unidades. Mas o valor das vendas caiu 11,6% nessa base de comparação, ficando em US$ 1,66 bilhão.

“Esperamos que o interesse contínuo por aeronaves de treinamento, bem como por novos produtos e por tecnologias que aumentam a segurança possam sustentar uma tendência de demanda para a indústria”, disse o presidente da Gama.

Fonte: Valor 14/08/2018

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